Em um minuto Robert Pattinson era um músico desempregado, então Twilight o transformou no segundo ator da Grã-Bretanha mais bem pago. Como a saga de vampiros de enorme sucesso se aproxima de seu fim, ele diz a Sanjiv Bhattacharya o quão assustador é emergir de volta para a luz do dia.
Quando perguntado sobre as questões da fama, Emma Watson (Hermione na série Harry Potter) disse que era agradecida por não ser Robert Pattinson. “Eu não posso sequer imaginar como esse tipo de fama deve ser”, ela disse. “Muitas pessoas devem desejá-los em suas posições e acho que ele tem a melhor vida, mas, na verdade, há preços que você tem que pagar. Não interprete a partir da minha perspectiva. Não é tão ruim para mim. Eu não estou na posição do Rob: eu não tenho pessoas gritando e chorando e me agarrando. Eu sou tão grata por isso”.
Isso diz algo quando a estrela de Harry Potter acha que você é o único que é muito famoso. Mas Pattinson – também conhecido como R Pattz – parece ter tomado seu passo. Ele cumprimenta a multidão gritanto com humor e charme e uma vontade de posar para fotos. Não houve drogas ou brigas com paparazzi. Até mesmo o romance que ele tem com a co-estrela de Twilight, Kristen Stewart, há dois anos atrás sobreviveu a cobertura de fôlego nas revistas de fofocas, um atestado do garoto sangue frio de 25 anos.
Então hoje deveria ser uma brisa. Ele está no Four Seasons Hotel em Beverly Hills para falar sobre Breaking Dawn – Part 1, a quarta parcela da franquia Twilight que tem sido sua vida nos últimos quatro anos. Quando ele aparece, no entanto, ele está uma bagunça. Seu famoso cabelo está destratado e sua camisa tem uma buraco em um dos lados. Não é nem mesmo uma lágrima de moda – foi apenas a costura. Ele parece que acabou de ser cercado por uma gangue de Twihards raivosos.
Felizmente, Pattinson não parece se importar. Nos anos da potência de Twilight, seus pensamentos se voltaram para o que pode ser a vida depois. “É como ser comparado a pessoas que estiveram em grandes filmes e depois desapararecem, embora eles provavelmente tenham uma vida incrivelmente gratificante e bem sucedida”, ele disse, mordiscando uma unha. “Assim como Luke Skywalker”, ele coça a cabeça “Que raios de nome é esse?“.
Mark Hamill.
“Sim! As pessoas são como: ‘Oh, a maldição de Mark Hamill’. E o pobre Mark Hamill. Jesus Cristo”, ele se inclina para trás na cadeira e ri, aparentemente alheio ao estado da sua camisa. “Quero dizer, eu tenho certeza que ele fez bem”.
É fácil esquecer que esta encantadora confusão de homem comanda no mínimo 12 milhões por filme. As maçãs do rosto são um indício, mas seus olhos parecem mais distantes do que o esperado – é rosto de um modelo, mais atraente em 2D. E Pattinson não tem qualquer arrogância sobre ele. Tão alto como ele é, ele não se impõe. Sua linguagem corporal é solta, acessível, modesta. Ele não está na elite admirando a vista tanto quanto olhando pra baixo e esperando não cair. “Eu acho uma desgraça iminente todo o tempo”, ele diz encolhendo os ombros.
Esse medo apocalíptico decorre do modo como sua carreira começou. Em um minuto ele era um completo desconhecido. E então, como um dia de céu azul claro, Twilight aconteceu, ele se transformou em Elvis. Garotas loucas em todos os continentes, assim como suas mães. Em 2010 a revista Time Magazine declarou Pattinson uma das pessoas mais influentes do mundo. E agora o fim está próximo.
Breaking Dawn é o último livro da série, mas a Summit Entertainment determinou a divisão do livro, assim como Harry Potter (a segunda parte [de BD] sai no próximo ano). Como eles conseguem transformar dois filmes no livro final será interessante. O enredo de Breaking Dawn, em que o romance entre Edward [Pattinson] e Bella [Stewart] finalmente chega ao altar do casamento, não oferece muito um clímax com toda a ação de, digamos, Harry Potter e as Relíquias da Morte.
“Em termos de carreira, Twilight foi como um cobertor de segurança”, Pattinson continua. Então ele enruga a testa por um momento e se corrige. “Não um cobertor – uma rede de segurança. Eu tinha uns três – ou quatro – meses ‘de férias’ que eu podia fazer algum outro trabalho. Mas o que eu sabia que teria um outro filme Twilight no caminho, que é teoricamente garantido para fazer um monte de dinheiro. Então eu sempre pude me dar ao luxo de perder”.
Agora a rede está desaparecendo. As estacas foram levantadas. Ele, certa vez, descreveu os papeis que escolhia como ‘paralisantes’.
“Depois do último sair, você pode ter dois tipos de perdas – e é melhor ser perdas de baixo orçamento. Porque se você tem uma perda de grande orçamento você está muito bem feito neste ambiente”.
É uma coisa grande a se dizer, dadas as circunstâncias. Afinal, ele é o segundo ator mais rico da Grã-Bretanha, atrás de Daniel Radcliffe, com uma fortuna de quase $23 milhões. Ele é um símbolo sexual internacional que nunca precisa trabalhar de novo, mas ele está carregando a carga de um jovem britânico em Hollywood, como Andrew Garfield, Tom Sturridge, Henry Cavill e Alex Pettyfer. Se há alguém que não deveria estar nervoso sobre seu futuro, é Robert Pattinson. E assim ele é.
“É diferente para Kristen, por exemplo”, ele continua, esquentando seu tema. “Ela não pensa desse jeito em tudo, porque ela cresceu gradualmente, fazendo filmes independentes e intensificando, enquanto eu estava fazendo filmes cada vez menores na Inglaterra, depois de Harry Potter… ao ponto em que eu estava fazendo tomadas de nove dias por, tipo, 20 centavos e um pacote da Space Invaders. E então isso aconteceu. Então eu não sou apenas mais um ator que está em volta e trabalhando. Quando você está me contratando para um emprego, você está contratando…”.
O garoto Twilight?
“Sim. Eu sou agora essa ‘coisa’ que está suposta a ser alguma coisa. E se você, depois, não cumpre essa expectativa, o que raios é você?”.
É uma pergunta justa. Em alguns aspectos, ele é apenas um garoto de classe média agradável de uma vaga casa boêmia em Barnes, oeste de Londres. Seu pai importava carros antigos da América e sua mãe era uma secretária em uma agência de modelos. Ele tinha duas irmãs mais velhas, que o vestiam como uma boneca e o chamavam de Claudia (Pattinson sempre foi assunto para a loucura das meninas). Ele começou a modelar quando tinha 12 anos de idade, trabalhando com aquelas maçãs do rosto – logo depois que ele foi expulso da escola por matar algumas aulas. Mas Pattinson nunca tinha pensado em atuar até então. Sua paixão era a música, e ainda é. Aquelas cenas de Twilight em que ele toca piano? São realmente as mãos de Pattinson.
Então, seu pai o convenceu a entrar em uma sociedade de amadores dramática da região. A agente de elenco o viu em uma produção de Tess of the D’Ubervilles, e em pouco tempo ele estava em um teste de cena como o filho da Reese Whiterspoon em Vanity Fair (as cenas nunca entraram no filme). Pattinson, entretanto, quis terminar a escola e ir para a universidade para fazer uma licenciatura em realações internacionais – ele brincou com a ideia de se tornar um redator de discursos políticos – até que ele conseguiu o papel de Cedric Diggory em Harry Potter e o Cálice de Fogo, que foi lançado em 2005.
Foi uma ruptura enorme na franquia de filmes global, mas apesar dele ter brilhado no papel, não abriu caminho para coisas melhores: as partes que lhe foram oferecidas eram menores, sua carreira entrou em caminho contrário. Havia uns poucos filmes indies e feitos para a tv – como o chocante piloto de guerra em The Haunted Airman e um músico deprimido em How to Be, para não mencionar o papel com a Catherine Tate em The Bad Mother’s Handbook, em que o futuro homem mais sexy se passa por um nerd de óculos garrafa e sweaters coloridos.
Nessa época, Pattinson estava vivendo com um amigo em Soho e a sua carreira musical estava começando a parecer mais provável. Ele tinha uma banda de rock chamada Bad Girls, e então começou a tocar sozinho com solos de guitarra sob o nome artístico de Bobby Dupea. Quando ele vôou para LA para tentar a sorte em Hollywood ele passou os seus dias tocando em bares ou indo ao cinema; sua agente, Stephanie Ritz, o deixou dormir em seu sofá. Foi nesse momento que o papel de Edward Cullen apareceu. A diretora Catherine Hardwicke estava sofrendo para conseguir preencher o papel. Ela tentou Orlando Bloom e Hayden Christiansen. Ela gostava de Henry Cavill mas ele aparentava ser muito mais velho. Ela fez testes com 5,000 rapazes para o papel antes de Pattinson.
“A audição foi na casa da Catherine, em Venice”, lembra-se ele do momento que mudou a sua vida – e o seu ‘estilo de vida’, para sempre – o que envolveu algo sobre bagunçar a cama de Catherine com Kristen para ver se eles tinham alguma química. “Era eu, ela e Kristen, e o assistente dela filmando tudo. Eu era o último daquele dia e eu já estava lá por umas três ou quatro horas, o que era mais tempo do que qualquer outro antes de mim. Então eu meio que sabia. Eu pensava: ‘Hummm, alguma coisa aconteceu’”.
“E essa foi a primeira vez que eu mandei um email logo depois do teste. Tipo, ‘Eu tive uma incrível experiênxia na audição’. Você sabe, puxando o saco do diretor. Eu sempre pensava que era algo besta e patético. Mas funcionou!”.
Aparentemente ele tinha o ingrediente X que Hardwicke estava procurando: até onde Pattinson reconhece, o X deve se referir a Xanax: “Eu nunca tinha tomado um Xanax antes”, diz ele, com um olhar culpado por um momento. “Mas eu começaria a ficar tão paranóico sobre bagunçar testes todo o tempo que eu realmente os bagunçava. Então eu comecei a ficar tão paranóico sobre fazer coisas erradas nos testes durante todo o tempo. Então eu tomei metade de um Xanax. E tudo foi muito bem, então eu tive que ir encontrar os produtores que pensei: ‘Eu vou tomar outro Xanax!’”. Ele ri se balança na cadeira. “E então eu fui e quase cai no sono”.
Os produtores não estavam muito impressionados. Eles achavam que Pattinson era mal vestido e muito velho para o papel. Mas Hardwicke suplicou e conseguiu uma nova reunião – desta vez, sem os medicamentos.
“Eu me barbeei umas 50 vezes antes de aparecer lá”, diz Pattinson. “Eu fiz com que eu parecesse todo limpo e arrumado, usando uma camiseta de gola V branca. E quase não foi. Nenhuma pessoa me queria naquela coisa, só a Catherine e a Kristen”.
Ele disse que esperava que Twilight fosse um filme indie “realmente sério” – “Eu não tinha ideia que seria essa coisa enorme que você encontra no chapéu do Burger King” - e que fosse aclamado pela “massa” e que tivesse os seus críticos, é claro. (Uma frase atribuída a Stephen King diz: “Harry Potter é sobre como confrontar os seus medos, encontrar força e fazer aquilo que é certo frente a uma adversidade. Twilight é sobre como é importante ter um namorado.”) Mas como vocês suspeitam, Pattinson reconheceu os limites de Twilight há muito tempo. O diretor de Breaking Dawn, Bill Condon, o descreve como sendo alguém superinteligente: “Essa é a primeira coisa que você percebe. Ele é muito atencioso e analítico. E ele é um cineasta, você sabia? Ele ama os mais diversos gêneros e atores, então ele aparenta ser alguém que mal pode esperar para sair e explorar”.
Sua escolha de papeis nos últimos tempos demonstram isso. Em Maio ele estreou o romance que se passa na era da depressão Água para Elefantes, como um impetuoso veterinário que se junta a um circo depois da morte dos pais. Ano que vem ele estará nas telas com a adaptação de Bel Ami de Guy de Maupassant, em que ele vai ser uma espécie de vilão e dormirá com Christina Ricci, Uma Thurman e Kristin Scott Thomas. E então teremos a adaptação de David Cronenberg para o livro Cosmópolis de Don DeLillo, uma história sobre um milionário traidor de Manhattan que perde toda a sua fortuna em um único dia. Ele descreve o roteiro como sendo “insano e dificil”; o elenco inclui Samantha Morton, Paul Giamatti e Juliette Binoche. É uma grande sociedade. Mostra as escolhas de um ator que esta mais preocupado em procurar um desafio do que um menino bonito procurando um porto seguro.
“Eu acho que ele fez escolhas muito inteligentes”, diz o produtor de Twilight Wyck Godfrey. “Ele tem um desejo muito profundo de realmente ganhar o status que tem e todos estes filmes tem diretores magníficos e um material de qualidade. Eu acho que isso fala muito mais sobre quem é o Rob de verdade do que a saga Crepúsculo, porque ele vem de um grande conhecimento literário. Ele aparecia no set de filmagem lendo Molière”.
Godfrey também já viu o lado “astuto e determinado” de Pattinson. Durante uma das típicas insanas semanas nas quais ele tinha que gravar cenas de Água para Elefantes por dois dias, antes de se dirigir ao Globo de Ouro e logo depois retornar as filmagens de Breaking Dawn. O problema era que o seu cabelo precisava estar mais curto para Água para Elefantes. “Eu disse, você irá precisar usar uma peruca (para o filme na década de 1930)”, disse Godfrey. “Você não pode voltar com um cabelo totalmente diferente. E tanto ele quanto a sua agente me disseram: ‘Ok, entendi.’ Mas mesmo assim ele cortou o cabelo bem curto. E quando ele me viu ele disse: ‘Oh meu Deus, eu não sei o que aconteceu!’. Foi algo muito irritante, mas isso mostra o tipo de dedicação que ele leva para os filmes no qual ele trabalha”.
Ele inspira afeto e admiração entre todos os colegas de elenco, que ficam maravilhados com a forma a maneira que ele lidou com o estrelato repentino. “Ele vem para o set de filmagem sem expectativas ou atitude”, diz Ricci depois das filmagens de Bel Ami, “nenhuma destas coisas com as quais você deveria se preocupar com alguém que tenha o nível de fama que ele tem”. Michael Sheen, que está ao seu lado nos filmes de Twilight, ofereceu o veredito de que ele “aparenta ter uma boa cabeça sobre os seus ombros”.
Pattinson sempre disse que admira a carreira de Leonardo DiCaprio – ele até já pediu alguns conselhos sobre prosperidade em sua carreira para DiCaprio. No Four Seasons, seus olhos se mantem fixos no horizonte. “Se um dia eu decidir parar de atuar, eu simplesmente odeio a ideia das pessoas dizendo, ‘Oh, alguma vez você fez algo além daquele negócio de Twilight?”.
Breaking Dawn – Part 1 estreia em 18 de novembro.
Fonte: Guardian UK via RobPattinson
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